O texto é cumpridinho, mas é uma boa leitura!
tá tristinha ou tá deprê?
Fernanda não conseguiu sair da cama para fazer a prova na faculdade esta manhã e Luiza desistiu de viajar com a turma no fim de semana, apesar do sol. Hoje em dia, qualquer garota desanimada ou numa fase ruim vai logo dizendo que está deprimida. Nem sempre: pode ser só uma tristeza passageira ou mesmo a TPM chegando. Aprenda aqui a identificar o que é que está pegando e quais os melhores caminhos para ficar numa boa rapidinho!
por Christiane Brito e Lucilene Faquim fotos Karine Basilio
Luiza Esteves*, 19 anos, está trancada no quarto há horas. Sua mãe escuta os seus soluços, mas não ousa se aproximar, pois sabe que vai escutar um monte. É quase hora do almoço e Fernanda Seixas*, 23 anos, ainda está na cama, debaixo da coberta, fitando as imagens na TV. As lágrimas escorrem, a irmã mais velha observa, mas nem se mete. Pensa que será inútil dizer qualquer coisa, como sempre. O que há de diferente entre uma cena e outra? O sentimento é igual, as duas estão sem chão, desamparadas, o coração destroçado, nenhuma perspectiva de futuro. A diferença é que Luiza levou um fora do primeiro namorado, a primeira transa, e não consegue se imaginar com outro cara. Ela está triste e com razão. Fernanda acabou nessa depressão sem motivo aparente: a vida segue normal, mas ela não se sente exatamente "normal". "Já passei quase um mês sem sair de casa. Ficava deitada no quarto, assistindo TV e chorava, chorava. Acabei com compulsão alimentar. Quando fico deprê, não quero ver ninguém, sinto vergonha das pessoas. Fico me pondo para baixo, acho que todo mundo é melhor que eu. Sinto um vazio enorme. Acho que, na minha vida, está faltando alguma coisa que eu nem sei o que é...", conta.
Revelados os segredos de cada uma, dá para imaginar que um pouco de colo e compreensão das amigas podem ajudar Luiza a passar pela situação mais depressa. Já Fernanda... parece que o buraco é mais embaixo. Agora, sim, estamos falando de depressão. Apesar de o problema ter um forte componente hereditário, ninguém está livre de ser atingido. Uma das causas pode ser um desequilíbrio na química cerebral, resultante da queda de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. O desarranjo prejudica a concentração, a memória e provoca fortes alterações de humor. E os remédios são a primeira opção de tratamento nesses casos. A terapia costuma ser um bom coadjuvante, mas depois que a medicação começa a surtir efeito. "Já fui a muito psicólogo, mas nunca fiz o tratamento até o fim. Freqüentava por uns três ou quatro meses, depois me sentia melhor e desaparecia. Eu só queria ir ao terapeuta quando estava mal, mas no dia da terapia sempre acordava bem, por isso faltava", diz Fernanda.
Vamos combinar: existe uma grande diferença entre estar tristinha e ficar deprimida. "Tanto a depressão quanto a tristeza trazem a falta de vontade e o desânimo, mas a depressão dura dias, semanas, meses e tende a ficar pior, até a pessoa não conseguir nem levantar da cama. A tristeza aparece forte, depois dá trégua: vai melhorando, nem que seja devagar", explica Carlos Alberto Rodolpho de Oliveira, psicólogo, psicoterapeuta e professor de psicologia do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.
No final dessas histórias, Luiza arrumou outro namorado. Demorou um ano, mas, quando começou a amar de novo, a ficha caiu: "Como é que eu pude perder tanta balada por causa de um cara?" Fernanda já tomou remédio, mas continua brigando com a depressão. "Sempre que me sinto gorda, feia, essas coisas, fico mal. Não tem um momento certo, sou muito instável, meu humor varia demais. Tem semana em que fico todos os dias tristinha", conta. "Mas pelo menos agora já aprendi que, quando pinta a deprê, preciso buscar ajuda. Aí corro para as amigas, para o meu namorado e minha mãe", conclui.
O psicólogo Carlos Alberto enfatiza que nunca se deve parar com os medicamentos antes da alta. E, assim que o remédio começa a fazer efeito, é importante tentar sair do isolamento e se abrir com amigos e família, dividindo inclusive as frustrações. "Também é fundamental aprender a perseguir os sonhos. Não perca de vista o que vai trazer alegria para o seu coração!"
Não é que exista uma epidemia de depressão, mas parece que o problema está mesmo crescendo entre a moçada. "Antes achávamos que os adolescentes e jovens somavam cerca de 5% entre os deprimidos. Agora trabalhamos com uma porcentagem entre 10 e 30%. É provável que o número tenha crescido porque temos feito mais diagnósticos e os jovens também têm procurado mais ajuda. Muitos já chegam achando que têm depressão, porque ouviram palestras ou leram sobre o assunto", conta Lee Fu I, psiquiatra da infância e adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O índice também pode ter crescido por se tratar de um tipo de "mal de nossos tempos", como defendem alguns especialistas. "Acredito que a nossa cultura, que valoriza o individualismo e faz apologia da solidão, acaba produzindo um intenso desânimo e uma estranheza em relação a si mesmo e ao mundo", diz Miguel Perosa, terapeuta e professor de psicologia da adolescência na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo. E vai além: "Frustrar os sonhos de futuro pode produzir multidões depressivas e diante da falta de perspectivas dos tempos atuais, o número de jovens depressivos aumenta". Eduardo Ferreira Santos, médico do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMUSP), também aponta o cenário social para explicar a depressão entre a moçada: "Estamos vivendo um momento em que predominam o isolamento, a pouca amizade e a falta de solidariedade".
tá tristinha ou tá deprê?
Fernanda não conseguiu sair da cama para fazer a prova na faculdade esta manhã e Luiza desistiu de viajar com a turma no fim de semana, apesar do sol. Hoje em dia, qualquer garota desanimada ou numa fase ruim vai logo dizendo que está deprimida. Nem sempre: pode ser só uma tristeza passageira ou mesmo a TPM chegando. Aprenda aqui a identificar o que é que está pegando e quais os melhores caminhos para ficar numa boa rapidinho!
por Christiane Brito e Lucilene Faquim fotos Karine Basilio
Luiza Esteves*, 19 anos, está trancada no quarto há horas. Sua mãe escuta os seus soluços, mas não ousa se aproximar, pois sabe que vai escutar um monte. É quase hora do almoço e Fernanda Seixas*, 23 anos, ainda está na cama, debaixo da coberta, fitando as imagens na TV. As lágrimas escorrem, a irmã mais velha observa, mas nem se mete. Pensa que será inútil dizer qualquer coisa, como sempre. O que há de diferente entre uma cena e outra? O sentimento é igual, as duas estão sem chão, desamparadas, o coração destroçado, nenhuma perspectiva de futuro. A diferença é que Luiza levou um fora do primeiro namorado, a primeira transa, e não consegue se imaginar com outro cara. Ela está triste e com razão. Fernanda acabou nessa depressão sem motivo aparente: a vida segue normal, mas ela não se sente exatamente "normal". "Já passei quase um mês sem sair de casa. Ficava deitada no quarto, assistindo TV e chorava, chorava. Acabei com compulsão alimentar. Quando fico deprê, não quero ver ninguém, sinto vergonha das pessoas. Fico me pondo para baixo, acho que todo mundo é melhor que eu. Sinto um vazio enorme. Acho que, na minha vida, está faltando alguma coisa que eu nem sei o que é...", conta.
Revelados os segredos de cada uma, dá para imaginar que um pouco de colo e compreensão das amigas podem ajudar Luiza a passar pela situação mais depressa. Já Fernanda... parece que o buraco é mais embaixo. Agora, sim, estamos falando de depressão. Apesar de o problema ter um forte componente hereditário, ninguém está livre de ser atingido. Uma das causas pode ser um desequilíbrio na química cerebral, resultante da queda de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. O desarranjo prejudica a concentração, a memória e provoca fortes alterações de humor. E os remédios são a primeira opção de tratamento nesses casos. A terapia costuma ser um bom coadjuvante, mas depois que a medicação começa a surtir efeito. "Já fui a muito psicólogo, mas nunca fiz o tratamento até o fim. Freqüentava por uns três ou quatro meses, depois me sentia melhor e desaparecia. Eu só queria ir ao terapeuta quando estava mal, mas no dia da terapia sempre acordava bem, por isso faltava", diz Fernanda.
Vamos combinar: existe uma grande diferença entre estar tristinha e ficar deprimida. "Tanto a depressão quanto a tristeza trazem a falta de vontade e o desânimo, mas a depressão dura dias, semanas, meses e tende a ficar pior, até a pessoa não conseguir nem levantar da cama. A tristeza aparece forte, depois dá trégua: vai melhorando, nem que seja devagar", explica Carlos Alberto Rodolpho de Oliveira, psicólogo, psicoterapeuta e professor de psicologia do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.
No final dessas histórias, Luiza arrumou outro namorado. Demorou um ano, mas, quando começou a amar de novo, a ficha caiu: "Como é que eu pude perder tanta balada por causa de um cara?" Fernanda já tomou remédio, mas continua brigando com a depressão. "Sempre que me sinto gorda, feia, essas coisas, fico mal. Não tem um momento certo, sou muito instável, meu humor varia demais. Tem semana em que fico todos os dias tristinha", conta. "Mas pelo menos agora já aprendi que, quando pinta a deprê, preciso buscar ajuda. Aí corro para as amigas, para o meu namorado e minha mãe", conclui.
O psicólogo Carlos Alberto enfatiza que nunca se deve parar com os medicamentos antes da alta. E, assim que o remédio começa a fazer efeito, é importante tentar sair do isolamento e se abrir com amigos e família, dividindo inclusive as frustrações. "Também é fundamental aprender a perseguir os sonhos. Não perca de vista o que vai trazer alegria para o seu coração!"
Não é que exista uma epidemia de depressão, mas parece que o problema está mesmo crescendo entre a moçada. "Antes achávamos que os adolescentes e jovens somavam cerca de 5% entre os deprimidos. Agora trabalhamos com uma porcentagem entre 10 e 30%. É provável que o número tenha crescido porque temos feito mais diagnósticos e os jovens também têm procurado mais ajuda. Muitos já chegam achando que têm depressão, porque ouviram palestras ou leram sobre o assunto", conta Lee Fu I, psiquiatra da infância e adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O índice também pode ter crescido por se tratar de um tipo de "mal de nossos tempos", como defendem alguns especialistas. "Acredito que a nossa cultura, que valoriza o individualismo e faz apologia da solidão, acaba produzindo um intenso desânimo e uma estranheza em relação a si mesmo e ao mundo", diz Miguel Perosa, terapeuta e professor de psicologia da adolescência na Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo. E vai além: "Frustrar os sonhos de futuro pode produzir multidões depressivas e diante da falta de perspectivas dos tempos atuais, o número de jovens depressivos aumenta". Eduardo Ferreira Santos, médico do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMUSP), também aponta o cenário social para explicar a depressão entre a moçada: "Estamos vivendo um momento em que predominam o isolamento, a pouca amizade e a falta de solidariedade".
Retrato falado: o que é o quê
Tristeza
É um sentimento natural e temporário, conseqüência de um fato desagradável.
Causa: a morte de alguém querido, um rompimento amoroso, problemas no trabalho, enfim, algum tipo de frustração.
Conselho: amigos, namorados e bom relacionamento com as pessoas à sua volta sinalizam um caminho de volta possível. É fácil se magoar, o difícil é perdoar, principalmente a si mesmo quando falha.
Depressão
É um "estado de espírito" em que prevalece desânimo, cansaço, baixa auto-estima e falta de vontade.
Causa: tendência hereditária e fatores psicológicos (ocorre mais em quem vive mal-humorado e isolado ou nas pessoas que se cobram demais). Perdas, traumas e oscilações hormonais podem ser um gatilho.
Conselho: se normalmente já não é fácil organizar a vida, o sono, a dieta e o exercício, imagine quando se está deprimido! Procure um psiquiatra ou um neurologista para conferir a
necessidade de tomar algum medicamento e complemente o tratamento com terapia.
TPM
A tensão pré-menstrual é uma combinação de sintomas emocionais, comportamentais e físicos que ocorrem entre uma e duas semanas antes da menstruação e que melhoram após o início da mesma.
Causa: oscilações hormonais.
Conselho: tenha consciência de que o mal-estar vai passar logo. Exercite-se pelo menos três vezes por semana, faça alguma atividade que dê prazer (um hobby) e capriche no chá de camomila, um calmante natural.
Evite: alimentos à base de cafeína (café, refrigerantes tipo Coca-Cola e chá-mate), excesso de sal e gordura.
Fonte: Boa Forma
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